Vazio
e sem pressa, como água eu caminhava num silêncio de raiz por dentro de mim.
Sem
paixão ou motivo que justificasse, eu me conduzia torto pelo eterno descaminho
azul desse mim.
Nessa
iluminada jornada, descobri que dentro do mim havia um céu leve, cínico de
escuridão, e que nas paredes desse céu era possível tocar páginas de livros com
estrelas, noites e ventos.
Eu
me distraía folheando os livros do meu céu.
Eu
era o livro de mim.
Eu
me folheava.
Mergulhado
nesse universo do dentro, por dias percorri meu coração, minhas lembranças e
chorei ao encontrar com o meu tempo, alegre na infância, hoje triste, úmido e
solitário.
Trilhando
o percurso, ouvi ao longe uma melodia cuja canção me atraía como uma ventania
me lançando pelos ares.
Nesse
voo melódico e inesperado, fui arrebatado de dentro de mim por versos livres,
consagrados de sombra.
Atado
a eles, voei por um longo tempo, mas não abria os olhos, porque senti que se os
abrisse, cairia de uma altura que só daria pra medir se esse poema fosse um
soneto.
Eu
estava mais alto que a lágrima.
Tão
alto que atingi o plano inconsequente dos segredos da alma.
Eu
me deitava em nuvens e flutuava sem rumo por um deserto de borboletas.
Após
isso veio o esboço e o infortúnio: fui embalado num véu de olhares atormentados
em que só a poesia poderia me salvar.
Ah,
a poesia! Ela, que voa sem asas!
Veio
até mim e sem mais nem menos me resgatou, lançando-me como chuva num jardim
azul com canteiros de petúnias e promessas.
Nesse
jardim, eu pequenino contemplei bem de perto a terra, eu terra, os insetos, as
flores e percebi que de todos os seres viventes do mundo, eu era o menor.
Isso me fez grande.